11 de agosto de 2006

Fármacos...

Hoje em dia, e parece que cada vez mais, existe alguma confusão entre a Psicologia e a Psiquiatria. Confusão essa sem qualquer sentido.
Colocando, ou tentando colocar, de lado a "rivalidade" entre Psicólogos e Psiquiatras, tentarei esclarecer algumas dúvidas. Uma vez que dediquei este Post aos fármacos, vou-me debruçar apenas sobre este aspecto, não falando de outros que possam parecer mais lógicos de se falar.

Perante uma dificuldade na vida de uma pessoa existem sempre duas escolhas, senão mais, ou deixamo-nos levar e derrubar por essa dificuldade, ou levantamos os braços e seguimos em frente.

Recorrer aos fármacos pode, para muitas pessoas, parecer a melhor forma de seguir em frente, no entanto, não o é. Ao contrário de quando estamos com uma dor de cabeça tomarmos um comprimido permite-nos sentir bem e continuar com o nosso ritmo, quando o problema é do foro psicológico ou emocional o efeito do fármaco é retardante, ou seja, apenas adia o inevitável.

A administração de fármacos é utilizada em Psiquiatria em casos mais graves de Psicopatologia, no entanto, cada vez mais pessoas com sintomatologias leves recorrem a Psiquiatria para que lhes seja administrado um fármaco para, dizem elas, ultrapassarem o problema mais rapidamente, ou para "acordar quanto tudo tiver passado". Esta ideia pré-concebida é errada, já um professor meu na Faculdade dizia "para crescer é preciso sofrer".

Existem casos em que é necessário administrar fármacos, contudo, em casos de depressão, luto e outras sintomatologias do foro emocional é aconselhável que a pessoa esteja na posse das suas capacidades em todo o processo de ajuda, é fundamental que a pessoa perceba todo o processo e esteja consciente de todas as alterações físicas, emocionais e psíquicas a que estará sujeita.

A tomada de consciência é o primeiro passo em todo o processo, passo esse largamente adiado pela administração de fármacos.

Uma questão de Ética

Várias vezes tenho sido questionada sobre a ética em Psicologia.
Perguntas do tipo:"Porque é que não podes dar consultas a conhecidos?". A resposta, lógica para nós profissionais, nem sempre o é para as outras pessoas.

Porque razão não podemos nós Psicólogos exercer a Psicologia com pessoas com as quais partilhamos laços familiares, de amizade ou de amor?
Muitas pessoas chegadas a um consultório procuram no Psicólogo um amigo, um erro comum uma vez que o Psicólogo não pode tomar esse lugar na vida do paciente, o Psicólogo é um profissional e é esse o seu papel.

Na vida de uma pessoa os amigos ocupam um papel bastante importante, tal qual como a família, no entanto, algumas vezes sentimos necessidade de falar com alguém que não faça parte deste leque de conhecimentos. É nestas alturas que precisamos de outro tipo de apoio, de ajuda por parte de um profissional.

A diferença entre falar com um amigo e com um profissional consiste no facto de não sermos alvo de qualquer aprovação ou desaprovação, coisa que tememos sempre quando falamos com alguém amigo.

Da parte do Psicólogo, falar com alguém com quem possui qualquer laço não profissional é impensável,o seu trabalho ao invés de ser facilitado era multiplicado. Quantas vezes já tentou falar com algum amigo um assunto sério e sente que não é capaz, que o outro não vai aceitar o comentário ou a opinião, ou que o outro não vai se abrir consigo? Agora imagine o trabalho de um psicólogo nesta perspectiva. O Psicólogo precisa de criar uma empatia pura com o paciente, sem quaiquer medos, resistências e desconfianças, de forma a poder perceber o que se passa com o paciente e proceder a um feedback e apoio incondicional.

Outra questão que se coloca é a implicação que a relação profissional entre o psicólogo e o paciente pode ter na relação de amizade entre ambos. Qualquer desacordo em ambiente profissional pode afectar a relação de amizade, ou vice-versa.

Por estas razões, entre outras, surge a ética profissional da Psicologia, que não prevê qualquer relação entre um Psicólogo e o seu paciente.